Aprendizado de Gaia

Após outro longo e tedioso dia de vigília, Gaia dirige-se para o lugar combinado. No meio do dia, havia combinado de ir a um certo lugar em uma floresta na Konoha. Infame por seus excessos, estava acostumada com aqueles que lhe chamavam a atenção e queriam que fosse mais comedida. Eles não a compreendiam, viam sua ambição como um inimigo a ser combatido e domado. Por isso, diversas vezes foi punida por seus excessos.

O que não compreendiam é que o desejo que possui por força e vida fazem parte de sua natureza própria. Ela não os deseja para acumular como um desses humanos mesquinhos que simplesmente acumula infinitamente. Gaia faz de sua vida uma grande fogueira. O que deseja é que seu fogo queime tão quente quanto possível, que a coluna de fogo seja tão alta quanto possível e que os sinais de sua fumaça cheguem a tantos quanto possíveis. A força pela força, sem qualquer justificativa ulterior. Um desejo impossível de ser realizado, pois humanos não são deuses. No entanto, apesar de impossível, não proibiram os deuses a tentativa humana de alcançar a perfeição... E é por isso que Gaia deseja caçar aquelas feras que lhe causam medo, ou competir com outras valorosas caçadoras. Esse tipo de vida, no entanto, faz de Gaia alguém solitária. Por um lado, poucos são os humanos que entendem ou suportam este estilo de vida. Por outro, Gaia quase nunca consegue externar o que sente. É por isso que ela odeia as palavras. Elas nunca conseguem dizer exatamente seus sentimentos.

- É um prazer conhecê-lo. – respondi com uma mesura respeitável.- Obrigada, é um grande alivio saber que o lugar lhe agrada. – deixei que um sorriso tímido brotasse em meus lábios. Talvez as pessoas de Suna não fossem tão ruins quanto eu temia.

Esperei pacientemente que Yugami desse as instruções sobre os Jutsus medicinais. Fiquei entusiasmada sobre mudar o meu chakra, mas o entusiasmo desapareceu com a mesma facilidade que havia aparecido. Cortar a minha própria mão?

Respirei fundo e tentei me concentrar no primeiro passo. Parecia uma tarefa simples, mas que se mostrou completamente complicada. Canalizei uma quantidade considerável de chakra em minha mão esquerda e tentei expandi-lo para fora de meu corpo. Aos poucos, o chakra azulado atravessou os poros da minha mão e tomava a forma de uma esfera perfeita. O mantive estável. Estava na hora de tentar transformá-lo.

Mantive a concentração no chakra. Eu sabia que a qualquer vacilo, eu poderia perder o controle daquela bolha energética. Fechei os olhos. Esvaziei a minha mente de tudo e de todos. Era preciso encontrar aquele chakra especial ou caso o contrario eu jamais conseguiria ajudar os necessitados.

Abri os olhos com motivação, a vontade de ser forte não só para mim, mas também para minha aldeia, fez com que o chakra esverdeado tomasse o lugar do chakra azul; eu finalmente havia conseguido.

Segundo passo; o ferimento proposital. Eu não me considerava louca e muito menos doente, não acho que eu seja esquizofrênica. Mas cortar a própria mão me parecia loucura, pura “doidera”. Não, eu não teria coragem de fazer uma coisa dessas, não enquanto a sanidade fizesse parte de mim. Por outro lado, se eu não o fizesse, eu jamais saberia se a vocação para medicina estava dentro de mim.

Finquei uma kunai no chão e a forcei contra o solo. Era preciso que ela estivesse bem firme. Sentei-me sobre minhas pernas e comecei a encarar a arma. Fiquei duvidosa, a idéia que me surgira agora me parecia o cumulo do absurdo. Suspirei e levantei o braço devagar. Eu estava ficando louca.

- Um... Dois... – Apertei os olhos e cerrei o punho esquerdo. - Três – Desci o braço com velocidade contra a kunai. Aos poucos, pude sentir a faca perfurar minha pele e rasgar a minha carne. Segurei um gemido de dor e contive as lagrimas, eu era capaz de suportar aquilo ou então eu jamais seria uma verdadeira Kunoichi.

Abri os olhos e me assustei com a kunai atravessando a minha mão. Engoli o seco, retirei o objeto tentando fazer poucas caretas. Caras e bocas não me parecia convenientes diante de um jounin. Examinei o machucado por alguns minutos e tentei dar inicio ao termino da segunda etapa. Voltei a canalizar o chakra verde na minha mão esquerda e o mantive ali por certo tempo. Encostei uma palma sobre a outra e me concentrei. Aos poucos pude sentir os tecidos se regenerarem embora muito lentamente. Era preciso mais desempenho. Focalizei toda a minha atenção na ferida e no estrago que ela viraria se eu não a curasse imediatamente.

Cerca de dez minutos mais tarde, minhas mãos desabaram sobre meu colo. Olhei esperançosa para Yugami e depois lhe mostrei uma mão suja de sangue, mas sem ferimentos.

Sentada ao pé da árvore, pernas cruzadas e olhos fechados, Gaia termina suas orações matinais, pedindo que os deuses a guiem em mais esta tarefa. Tão ou mais importante que sua missão pessoal é ensinar suas artes, passar adiante seus conhecimentos e também ser instruida nas áreas em que menos domina e era com esse propósito que Gaia fora se encontrar com o amigo. Certo, ela própria ainda era nova, e a diferença de idade entre ela e Hakken não era tão grande assim. Mas era certamente grande sorte ter encontrado alguém que a pudesse ensinar na arte das ilusões.

Levantou-se e saiu de trás da árvore indo em direção a Hakken. - Estou aqui – Comuniquei com um sorriso sincero. Será que ele realmente achou que eu não viria?