Nirvana
Décimo sexto dia, era a contagem de Nirvana.
Estava fugindo de sombras misteriosas a qual seu pai tinha dito que eram semi-deuses. A Patrulha da Cidade a procurava como se ela houvesse matado e agredido muitos. Metade da verdade. Mas não tinha sido o que todos pensavam.
Estava com fome e sede. As águas sujas e que escorriam em direção aos córregos vinham com muita pouca frequência, ainda mais perto da muralha exterior. Evitava de ficar dentro da cidade ou próximo ao núcleo, com medo de ser capturada e ser levada em direção àquela escola imunda e cheia de meio-sangues. Eles recrutavam com frequência os alquimistas, e o pai dela a alertara daquilo. Só não achou que quando um alquimista sendo recrutada, negasse o pedido, toda a guilda fosse queimada.
O crepúsculho chegava. A sombra da muralha que continha trinta metros de comprimento se alargava e deixava quase uma boa parte da cidade coberta pela sombra gigantesca. O Portão das Lamentações estava sendo fechado. A partir daquele momento da noite, começava as rondas mais eficazes da Patrulha.
A espada que tinha escondida por debaixo da roupa tinha ajudado-na apenas algumas vezes e a defendeu dos homens da Patrulha apenas no incêndio da sua Guilda.
A noite do incêndio foi a pior da sua vida. Tudo havia começado com um simples não e então, o garoto estava no chão, jazido. Homens da Patrulha da Cidade arrombaram o prédio e homens de lá de dentro começaram a se defender com frascos de fogo mortífero e frasco-da-medusa. Homens de pedra e carbonizados gritavam do sub-terrâneo. A batalha foi incessante. Quando arrombaram o quarto de Nirvana, no segundo andar, ela jogou pó maldito no primeiro que fez os seus olhos corroerem, e como forma de reflexo, enfiou a espada na barriga de seu companheiro de batalha. O prédio começou a pegar fogo. Ela saiu da emboscada para homens pulando do primeiro andar e se sustentando em um homem da Patrulha.
A Cidade Obscura era um lugar horrivel a se morar. Todos os seus prédios eram grandes, tanto quanto a muralha, e tinham uma tonalidade marrom-escuro e preto. Todos que moravam ali aparentavam a ser infelizes; até mesmo sua antiga guilda não era muito feliz. Eram escravos do rei e dos deuses. Os deuses, que para ela nunca existiriam; eram corruptos e pouco se fodiam para humanos, desde que eles tivessem suas orações prometidas a uma noite.
Naquela parte da fortaleza externa, as ruas pareciam vielas e as casas eram tão pequenas que se ridicularizava ao que estava dentro da muralha interna, com todos os seus edifícios e casas soberbas. Viu um pequeno grupo de homens vindo em sua direção e entrou em uma viela que não tinha espaço nem para duas dela. Seu corpo esguio e pequeno a deixava em vantagem quando era pra se esconder. Apesar de sua idade ser bastante avançada pra ser parecida com um graveto ambulante e grande.
Os homens passaram conversando na maior distração possível, pouco ligavam para quem vinha atrás ou a frente. Os seus mantos azul escuro, simbolizando adoração por Zeus, quase raspavam pelo chão e as suas espadas de aço simples brilhavam com o reflexo da lua nelas. Mesmo atrás daquela muralha extensa, as luzes de tochas e da lua se destacavam. Saiu de seu esconderijo e tentou achar alguma casa abandonada para dormir.
Dormir. Não conheço isso a duas semanas. Isso se chama descançar, pensou enquanto entrava pela janela de uma casa. Mesmo não sendo boa em poções, era boa em escalar casas e pular delas, tinha sido seu refúgio depois de todos seus familiares e amigos terem sido mortos. Era muito furtiva.
Abriu a janela de madeira com muita calma. A luz incediu sobre todo o cômodo e parecia que todo o brilho da lua tinha ido à cama onde tinha uma senhora gorda e bigoduda dormindo. Nirvana levantou sua roupa e puxou o punhal, não queria matar ninguém, mas era obrigada; sua cabeça valia tanto, que caso alguém aquela velha soubesse, entragaria-a ao rei e se tornaria rica.
E tiraria o bigode, riu e cortou sua garganta com as mãos trêmulas. O punhal caiu com sangue, ela sabia que não deveria parar por ali. Haveria mais gente dentro da casa que deveria matar ou seria morta. Saiu pela porta e viu que aquela casa pertencia apenas a velha. A casa era de barro e seus telhados de madeira, havia outra porta, que levava a um depósito de comida e no centro dela, uma mesa e um fogão de barro. Lembrando em comida, Nirvana sentiu tanta fome que tinha diso uma das piores dores de sua vida quando a barriga apertou-se e fez um chocalho.
Entrou no depósito e achou três pãos e queijo frio. Os devorou como se a sua vida dependesse daquilo e realmente dependia. Ficou ali, sentada no chão frio, observando as suas mãos: estavam rigídas, rachadas e sujas. Era uma dama alquimista, ou seja, tinha aprendido o fundamental das artes da alquimia e também como ser uma dama.
Não sou alquimista. Muito menos uma dama, desatou em chorar e chorar. As lágrimas a cansavam e sabia que não podia chorar, mas saber não era poder. Não naquele momento. E então, recostou-se sobre um saco de farinha e uma maré de escuridão a encobriu.
Acordou aos gritos de um moleque na porta de entrada. Pedindo para deixa-lo entrar, se não chamaria novamente o pai. "Se andou bebendo novamente, mãe! Juro-lhe que te mato com essas suas mãos gordas e cheias de vinho."
Nirvana entrou em pânico, não sabia o que fazia. Ela tinha visto uma segunda cama no quarto, mas pouco tinha raciocinado devido ao seu sono e fome. Retirou sua espada da bainha mal feita, tinha feito-a na sua fuga e por isso o ferro era apenas para assegurar a espada a sua cintura. Quando abriu a porta, o moleque tentou falar algo, mas a espada já estava cravada em sua barriga gorda e cheia de banha. A semelhança com a mãe era assustadora. Mas tinha a cabeça rapada, que o deixava ainda mais feio e o bigode tinha uma incrível semelhança. Puxou para dentro, deixando um rastro de sangue.
Quando foi fechar a porta, viu um velho do outro lado da rua olhando ao corpo jazido atrás de si e a sua espada banhada de sangue. "Homens! Homens!", gritou tão alto que no segundo grito ficou rouco. Ela estava imobilizada, não tinha reação. Ouviu o tinir de cota de malhas correndo e espadas balançando. Os olhos do velho estavam iguais ao da menina: esbugalhados. Quando ela deu-se, virou, trancou a porta e correu até a janela do quarto e lá pulou para a rua de onde tinha vindo na noite anterior.
Se culpava e não tinha o porquê de não se culpar. Tinha que ter fechado a porta tão rápido quanto tinha matado o garoto. Ouviu atrás dela homens correndo rápido demais. Viu que uma casa podia ser escalada com mais facilidade do que as outras. Subiu por uma estaca de madeira solta, depois por um buraco na parede e depois outro. E lá estava, no teto da casa. Corria com toda a sua vontade e determinação de não ser pega. Homens na muralha já tinham a visto.
– m*! O Olimpo está me caçoando ou me punindo por todas as ofensas. Que vão a m*. – xingou enquanto corria, desacelerava e acelerava novamente. Ouvia flechas tentando parar sua corrida, mas eram mal-sucedidas.
Viu que a movimentação atrás dela tinha parado, e então, desceu por uma escada que encontrou em uma casa com dois andares. Desceu com a máxima cautela possível e não tentava fazer barulho.
Seu coração disparava. Colocou a mão em seu peito tentando ameniza-lo e não conseguia. Ela soava com seus cabelos pretos escorrendo até seus ombros. Seria capturada, ela sabia disso. Agora que tinham avistado-na, fariam o favor de colocar rondas por todo aquele quarteirão.
Podem pensar que foi uma menina qualquer. Não, não podem. Quantas meninas comuns andam com uma espada e adaga na mão, idiota ?
Tinha esquecido que havia uma marca em suas costas, que marcava o símbolo de uma poção com uma mão mostrando-na. Era a marca de sua Casa. A Casa Margaery tinha sido destruída junto com a Guilda. E sussurrou em voz baixa o lema: Nunca devemos desistir. A poção da desistência é amarga.
Sua honra voltava a crescer da forma que repetia aquelas palavras simples. Mas a coragem ainda se matinham a distância de acordo que falavam elas. Se ela não desistisse e tentasse matar um dos Patrulheiros, o tratamento com ela para-lá-onde-fosse. O seu pai havia dito que iria a uma escola fazer poções aos semi-deuses, outros diziam que era para ser julgado perante os deuses e outros que o Tártaro enguliria todos aqueles que ofenderam os humanos e seus heróis com poções que ridicularizavam poderes divinos.
Não tardou a chegar o trote de cavalos. Saiu de onde estava com toda a bravura do lema de sua casa, e no final da rua, seis cavalos pomposos vinham trotando com elegância; os homens não eram da Patrulha, e sim de algo mais elevado. Tinham uma torre no escudo. Todos brandiam lanças, mas o líder de todos eles, o porta-bandeira, era o mais galante.
Tinha sua cabeça desprotegida, seus cabelos eram tão finos e dourados como o ouro e os seus olhos verdes ao excesso. Em sua armadura, via-se o símbolo de um sol e no escudo a mesma torre que todos brandiam. Tentou lembrar-se a que deus pertencia o sol, mas não teve tempo para lembrar-se.
– Garoto, você deu trabalhos aos meus amigos da Patrulha. Para terem convocado a mim, foi muito honrado de sua parte ter matado um gordo. Ele te fez algum mal ? - perguntou com um sorriso sarcástico
Ela tentou dar uma resposta a ele. Mas não conseguiu. A sua boca travava a cada palavra que formava e aquele por cima do cavalo riu de sua cara de abestalhada. Fez um sinal para os outros homens que cavalgaram até o seu lado e ela brandiu a espada. O beijo do aço celestial em sua mão foi tão rápido que soltou a espada na hora.
Ele riu quando viu a garota chorar. O seu capitão chegou cavalgou até seu lado e fincou a lâmina em sua cabeça. O sangue do homem jorrou por todos os lados. A sua cabeça quadrada foi em direção ao chão e o elmo que prendia em sua cabeça, perfurou-a ainda mais. Outro homem saiu do cavalo e se ajoelhou perante o homem jazido
– Senhor! É meu irmão! - ele choramingava como menino que tinha seu pedido recusado por causa de um doce
– Se não quer morrer com ele, cale-se! Todos somos irmãos perante Apolo. Sou o seu Comandante. Ele atacou sem justa causa o oponente.
– Ele tentou atacar meu irmão, senhor.
– Vá te foder, Robert. Pouco me importo pra você e seu irmão. Se não quer morrer como ele, cale-se.
O homem calou-se. Um outro homem, forte como um touro a pegou e aquele que denomiva-se senhor mandou-a se despir. Ela não queria, tinha vergonha e quando mostrou isso, aquele homem a despiu com toda violência e brutalidade. E então, o homem loiro disse:
– Vejamos. Tem uma boceta e uma tatuagem de alquimista – disse com voz de triunfo – Levem-na para uma carruagem. Iremos a Escola de Semi-Deuses amanhã! Com ela, temos três alquimistas a mais. Isso é uma vitória, queridos. Vitória!
Vitória será quando minha espada furar sua bunda, loirinha, teve sua mão enfaixada e fora levada até um destino incerto.